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Devanir José de Carvalho. Um exemplo de resistência e de luta da classe operária

DEVANIR JOSÉ DE CARVALHO
UM EXEMPLO DE RESISTENCIA E DE LUTA DE CLASSE OPERÁRIA

Thainá Siudá e Fernanda Toscano
Novembro de 2006

Mineiro, nascido no dia 15 de julho de 1943, na cidade de Muriaé, Devanir era filho de José Carvalho e Esther Campos de Carvalho e irmão de Derli, Daniel, Joel, Jairo e Helena. Na década de 1950, sua família, de origem camponesa, mudou-se para São Paulo, para a região do ABCD. Era a época do início da instalação das indústrias metalúrgicas e automobilísticas na região.Juntamente com seus irmãos Derli, Daniel e Joel, com quem aprendeu o ofício de torneiro mecânico desde a adolescência, trabalhou nas indústrias da região – Villares e Toyota, entre outras. Em 1963, casou-se com Pedrina, com quem teve dois filhos: Carlos Alberto José de Carvalho e Ernesto Devanir José de Carvalho.

A clandestinidade

Em 1963, logo que se empregou, uniu-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, militou por reformas de base e participou de greves, passeatas operárias e outras formas de mobilização. Nesse mesmo ano ingressou no Partido Comunista do Brasil, no qual militou até 1964. Depois do golpe militar, mudou-se para o Rio de Janeiro, devido às perseguições, e lá continuou sua militância na clandestinidade, trabalhando como motorista de táxi.

Em 1967, Devanir uniu-se à Ala Vermelha, dissidência do PCdoB. Em 1969, voltou para São Paulo e, depois de se desligar da Ala Vermelha, fundou o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT).

O que foi a Ala Vermelha

A Ala Vermelha originou-se do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Este, por sua vez, é fruto de uma cisão no Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas considera-se o verdadeiro continuador do partido fundado em 1922. A ruptura deu-se a partir da crítica ao pacifismo do PCB, que se definira por mudar o sistema pela via institucional.

Com o golpe de Estado de 1964, o PCdo B reafirma a Guerra Popular como caminho da luta revolucionária no Brasil, diferenciando-se do pacifismo do PCB e também da via da guerrilha urbana adotada pelas novas dissidências do PCB, a exemplo de Aliança Libertadora Nacional (ALN).
A Conferência do PCdoB realizada em 1967 provocou divisões internas, entre as quais se situa a do grupo de militantes oriundos, em sua maioria, do movimento estudantil, e em menor escala de setores operários do ABCD paulista e de integrantes das Ligas Camponesas. Este grupo fundou uma nova organização chamada Ala Vermelha.

A Ala Vermelha fez a crítica do PCdo B, fundamentalmente, em três aspectos:

1) – Análise da realidade brasileira, caracterizada como semifeudal, que exigiria uma etapademocrático-nacional. A Ala tendia a afirmar o caráter capitalista da economia brasileira;
2) – relegação, a segundo plano, da preparação da guerra popular. A Ala se propunha a“organizar um partido de novo tipo em função da luta armada”;
3) – autoritarismo dos dirigentes do PCdoB na condução dos debates relativos àsdivergências internas.

Embora reafirmando a estratégia maoísta da Guerra Popular Prolongada, com o cerco das cidades pelo campo, a Ala Vermelha considerava a necessidade de implantação imediata de um foco guerrilheiro rural como embrião do futuro Exército Popular e a formação de grupos armados na área urbana, para ações de apoio ao campo.

Partiu para a ação e foi o primeiro grupo a realizar ações armadas no Brasil, durante a ditadura militar, já no ano de 1968. Essas ações eram dirigidas pelo Grupo Especial Nacional (GEN), do qual participava Devanir Carvalho.

Uma intensa repressão desencadeada em 69 levou a Direção Nacional a conduzir uma profunda reflexão interna, a qual levou às conclusões contidas num documento de 16 pontos. A autocrítica considerava que a organização vinha tendo uma prática militarista e reorientava a linha política para a realização de trabalho de massa, especialmente no meio operário e nos bairros populares.

MRT – A hora e a vez das armas

O Grupo Especial Nacional (GEN) não aceitou a reorientação e, saindo da Ala, criou o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), retomando o nome de uma organização criada por militantes das Ligas Camponesas, que se preparava para desenvolver a luta armada, quando foi dizimada logo após o golpe militar de 1964.

Pequena, mas combativa e eficiente, já em dezembro de 1969, o MRT realizou ações armadas em conjunto com outros grupos guerrilheiros com os quais formou uma Frente (ALN, VPR e REDE). Foram assaltos simultâneos a dois bancos. Essa ação teve grande repercussão porque a ditadura militar vinha alardeando o “fim do terror”, após o assassinato de Carlos Marighella, ocorrido em novembro daquele ano ( V. A Verdade, Ano I nr. 12 ).

O MRT passou todo o ano de 1970, com a Frente, realizando ações armadas de expropriação e o seqüestro do cônsul-geral do Japão em São Paulo para obter a libertação de presos políticos. No início0 de 1971, começou um processo de debates para formulação de sua linha política, mas a repressão se abateu pesada e dizimou seus principais dirigentes (Devanir Carvalho, Joaquim Alencar de Seixas e Dimas Antônio Cassemiro, inviabilizando a continuidade do movimento político-militar.

A prisão

Por volta de 11 horas da manhã do dia 5 de abril de 1971, Devanir chegou à Rua Cruzeiro, n° 1111, Bairro de Tremembé, em São Paulo, onde foi recebido pela polícia com uma rajada de metralhadora, que o deixou imobilizado. Levado para o Deops, passou a ser torturado pelo delegado Sérgio Fleury e sua equipe. Foi assassinado por volta das 18 horas do dia 7 de abril de 1971.

Segundo a versão policial, Devanir foi morto em confronto com a polícia, mas o próprio delegado Fleury fazia questão de deixar claro que pretendia prendê-lo e levá-lo à morte por meio de tortura. Esses avisos eram mandados pelos próprios irmãos de Devanir, que permaneceram presos de 1969 a 1970. Fleury dizia: “Avisem ao Henrique (nome de guerra de Devanir) que encomendei nos Estados Unidos um bastão tranqüilizante para poder pegá-lo vivo e que serei eu, pessoalmente, que o pegarei no pau”. A família de Devanir prefere aceitar a versão de que ele foi morto em confronto com a polícia: “É melhor para nós. É muito difícil pensar que meu pai foi torturado até a morte”, diz Ernesto, seu filho.

Depois da morte de Devanir, Pedrina chegou a ficar presa durante um mês, passando por torturas e conseguindo ser solta em seguida. Em julho de 1971, refugiou-se no Chile juntamente com seus filhos. Em 1973, Joel e Daniel, irmãos de Devanir que se encontravam no Chile, fizeram uma tentativa de voltar ao Brasil para regressar à luta, mas a partir daí são considerados desaparecidos políticos, não tendo até hoje seus corpos sido encontrados. Pedrina só regressou ao Brasil com seus filhos, três meses antes da anistia, em 1978.

Sem nenhuma fotografia que retrate o pai – todas foram levadas pela polícia –, Ernesto, filho de Devanir, diz que tentou formar a imagem da figura paterna: “Tenho uma foto em que ele está com o rosto coberto para não ser identificado. Há uma outra em que está comigo e meu irmão, mas foi tirada de muito longe e não dá para reconhecê-lo. O que restou foi uma foto 3x4, onde ele está disfarçado, barbeado e de óculos”.

O reconhecimento

Devanir foi muito reconhecido em países como Portugal, Argentina, França e Brasil, onde sua família esteve exilada. Embora a polícia, cão-de-guarda da ditadura militar fascista, tenha feito de tudo para que Devanir fosse conhecido como criminoso, não conseguiu esconder o que ele foi, verdadeiro herói da luta pela libertação da classe operária do jugo da exploração capitalista. Hoje, sua história também é relembrada em uma escola municipal em Diadema, que se chama Devanir José de Carvalho e que comemorou seus 10 anos em outubro, servindo de exemplo para a juventude e a classe operária que ainda sofrem com a opressão do sistema capitalista.
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FONTES

- Dos Filhos deste solo, Nilmário Mário Miranda e Carlos Tibúrcio
- Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964, Comissão de Familiares, Instituto de Estudo da Violência do Estado e Grupo Tortura Nunca Mais.
- Perfil dos Atingidos. Projeto: Brasil: Nunca Mais, Arquidiocese de São Paulo.