Balanço de um ano de atividade das FF.GG. do Araguaia

BALANÇO DE UM ANO DE ATIVIDADE DAS FF.GG. DO ARAGUAIA
(ESQUEMA)

1. Significado político de um ano da Guerrilha na Região do Araguaia.

a) no dia 12 de abril completa um ano a resistência armada no Sul do Pará. É um acontecimento de imensa importância no desenvolvimento da situação política brasileira.

Durante um período relativamente longo, enfrentando uma ditadura sanguinária e fortemente armada, revolucionários sem nenhuma experiência anterior de guerra de guerrilhas, desfraldam, com o fuzil nas mãos, a bandeira da liberdade, contra o imperialismo e pelas reivindicações populares. Esta resistência é um grande ejemplo para os patriotas e democratas, revela que no Brasil existem forças que não capitulam diante da mais violenta reação e que impulsionam a luta do povo para derrubar o poder dos militares.

A guerrilha do Araguaia é o mais poderoso movimento democrático surgido após o golpe de 1964 e que influi de modo marcante no curso da emancipação política nacional. A permanência da guerrilha durante 12 meses é uma verdadeira façanha, que só pode ser explicada pela justeza da causa que defende;

b) a presença da guerrilha em contribuído para desmascarar a ditadura e impedir que a demagogia dos militares engane as massas. Médici, quando assumiu o poder, afirmou que no fim de sua administração o Brasil entraria na “normalidade democrática”.

Aproxima-se o fim do atual governo e os generais, nem de longe pensam em “institucionalizar o regime”, uma vez que o descontentamento do povo é sempre maior, existindo há um ano luta armada no país. Os militares recorrem a toda sorte de violências e cometem os piores crimes a fim de travar o crescimento das ações do povo. Assim, se acirra, em escala crescente, a luta entre os que aspiram à liberdade, o progresso, a independência nacional e o bem-estar dos trabalhadores e os que defendem um regime tirânico e obscurantista. E quanto mais a ditadura se desmanda em suas arbitrariedades, mais cresce o movimento popular de resistência à tutela dos militares. Nesta luta, as FF GG desempenham papel primordial, constituem a vanguarda armada dos que, em toda a parte, se opõem à ditadura.

c) a luta guerrilheira do Araguaia, apesar da férrea censura do governo, torna-se conhecida cada vez mais de amplos setores da população. No correr do tempo, irá assumindo o papel de principal apoio do movimento de oposição popular. O inimigo tudo faz para impedir a repercussão da guerrilha. Mas não conseguiu alcançar seu objetivo. Os acontecimentos do Sul do Pará se propagam com rapidez pelo Brasil afora (exemplo de Pindaré). Também internacionalmente, a guerra de guerrilhas do Araguaia obtém repercussão (dar exemplos).

d) o exemplo das FF GG do Araguaia pode frutificar. Novos núcleos de resistência armada podem surgir. E em torno da guerrilha do Araguaia e de outros movimentos guerrilheiros têm possibilidade de aparecer e se unir ao povo para libertar o país da ditadura e do domínio imperialista. A formação da ULDP, ao influxo da luta armada, é um grande passo para a unidade do povo. Na medida em que ela se desenvolve, mais se ampliará a luta armada.

e) a guerra de guerrilhas na região se desenvolve em situação política interna bastante favorável. As condições objetivas são propícias; vastas massas pobres e exploradas; um regime tirânico; contradições no seio das classes dominantes, inclusive entre os militares. A ditadura está cada vez mais isolada, perde apoio social e político. Por isso, se desespera. Volta-se, então, com ódio, contra as forças revolucionárias, em particular contra o partido.

2. Um Ano de Atividade das FF GG entre as Massas da Região

a) o trabalho de massas foi o maior êxito da guerrilha. Ele ultrapassou as melhores expectativas. No início da luta armada, camponeses e habitantes das corrutelas demonstravam simpatia pelos guerrilheiros. No entanto, a maior parte da população local era independente, e pequena parcela, enganada pela reação, mostrava-se contrária à guerrilha. Hoje a situação mudou. Generalizada é a simpatia e extenso o apoio às FF GG.

Houve mudança de qualidade na posição das massas em relação aos combatentes da guerrilha. Os camponeses nos informam, nos alimentam e nos fornecem, na medida que nos desenvolvemos mais as massas confiarão em nós.

b) com a deflagração da luta armada, elevou-se o nível político e de consciência das massas. Estas já não são as mesmas do início do movimento guerrilheiro. Vão compreendendo os objetivos das FF GG e tomam posição política ao nosso lado. Formouse uma opinião pública favorável aos guerrilheiros. Exemplo disso é a atitude de simpatia em relação à nossa luta, dos padres e dos terecoseiros. Reduzidíssimo é o número de inimigos entre os moradores da região. Mesmo os ricos conosco simpatizam. Diminui o número de bate-paus. Os camponeses começam a nos ver como se fossemos autoridades.

Os que se apoderaram de nossas coisas agora começam a devolve-las. Cresce o número de nossos fornecedores. Ninguém teme em nos ajudar. Já é bastante elevada a quantidade de amigos firmes. Inicia-se também a resistência da massa aos grileiros. Estes são, do ponto de vista social, os maiores inimigos da região. Mesmo assim, podemos manobrar com alguns deles. Organizam-se os primeiros núcleos da ULDP. Surgem possíveis voluntários para as FF GG. As massas já fazem propaganda de nossa luta e de seus objetivos;

c) tudo isso é, em boa parte, fruto de nossa propaganda revolucionária armada. Esta
tem avançado em ritmo bem acelerado. Cerca de 600 famílias já foram por nós visitadas.

Na área do A, perto de 150, na do B 200 e na do C 150. As experiências do DA são as melhores. Os combatentes fazem palestras, conversam com os camponeses, lêem o manifesto da ULDP e outros documentos; declamam o Romance da Libertação do Povo.

Na propaganda revolucionária, desempenha importante papel o trabalho físico em conjunto com os camponeses. Para o êxito do trabalho de massas teve grande importância o fato de os guerrilheiros se situarem próximos das casas dos camponeses e ligarem-se mais às massas quando o inimigo não está na área.

A tendência das massas é de se radicalizarem e aumentarem a sua ajuda, em todos os aspectos, às FF GG. Estas têm no povo seu principal sustentáculo (abastecimento, informação, recrutamento de novos combatentes e propaganda da guerrilha).

3. Um Ano de Atividade Militar das Forças Guerrilheiras

a) no terreno militar, fizemos dura e penosa experiência. Não tínhamos qualquer vivência de luta armada. Todos éramos neófitos. Não estávamos suficientemente preparados técnica e fisicamente. Nosso conhecimento do terreno e de vida na mata era pequeno. Nosso armamento bastante precário. Poucos eram nossos depósitos e escassos nossos recursos financeiros. Pagamos elevado preço em virtude dessa deficiente preparação. Nosso aprendizado foi caro. Tivemos pesadas baixas, particularmente no DC;

b) mas não capitulamos e nem fomos vencidos. Um ano depois de iniciada a luta, mantemos nossas forças principais e avançamos em todos os terrenos. Realizamos pequenas ações, mas algumas de repercussão. Enfrentamos duas grandes campanhas militares sem nos deixar derrotar. Causamos 8 baixas ao inimigo. A sobrevivência da guerrilha e o seu fortalecimento são o nosso êxito militar mais importante. Isso foi possível porque: nossa causa é justa; nossa linha militar é correta; fizemos uma preparação adequada, embora deficiente;

c) As FF GG estão se forjando na luta. Seus membros são combatentes e propagandistas. Aprendem a combater, a se ligar com as massas e a propagar as ideáis da revolução. São hoje autênticos lutadores do povo. Os DD fazem com perícia seus deslocamentos. As aproximações das casas vêm sendo conduzidas como se fossem operações militares. Algumas ações foram muito bem feitas (dar exemplos). Estamos criando nossa tática militar;

d) as FF GG dominam a mata. A grande maioria dos combatentes orienta-se bem. Expandimos nosso conhecimento da selva. Passamos relativamente bem a estação das águas.

e) avançamos no abastecimento. Não fomos obrigados a capitular pela fome, nem fizemos aventuras em busca de alimentos. Os depósitos em barracas, a caça e o moquém, a castanha, os frutos da mata, a massa de coco de babaçu. Os camponeses nos dão comida e nos vendem seus produtos.

f) forjamos na guerrilha o novo homem. Os nossos heróis e mártires (Fátima, João Carlos e outros).

g) nossa tática consiste em não se empenhar em ataques frontais ao inimigo, só combatendo quando as condições forem extremamente favoráveis. Obedecer rigorosamente às leis da guerrilha. A grande questão: quem surpreende quem. Não se deixar localizar.

Aproveitar ao máximo o abrigo da mata. Utilizar o mais possível as informações dos moradores da região. Procurar sempre fustigar o inimigo e embosca-lo quando possível e quando se estiver certo do êxito. Não temos sabido aproveitar todas as condições favoráveis. Quando o inimigo avança com grandes efetivos, devemos recuar, mas fustigando-o e emboscando-o atuar em diferentes áreas para desnortear o inimigo.

Preencher toda nossa região, de S. Domingos a Itaipavas. Multiplicar-se por mil. Não ficar parado. A passividade seria a morte da guerrilha. Empregamos pouco o fustigamento e não fizemos nenhuma emboscada, nem armadilha. Não colocamos nenhuma mina. Não fizemos trabalho de desinformação e inquietação do inimigo. Mas, de um modo geral, aumentou nossa capacidade militar.

h) nosso armamento sempre foi precário e tivemos muitas perdas de armas (por ação do inimigo, extravio e falta de cuidado). Nossas perdas em armas: A – 4 revólveres (3 extraviados), uma espingarda 16, uma espingarda 20, dois rifles 44 (um extraviado) e uma espingarda 16 e uma metralhadora avariadas. C – 3 fuzis, uma pistola 45, 10 revólveres, 4 espingardas 20 e 2 rifles 44 avariados. CM – 1 revólver. Total: 33 armas perdidas e 6 avariadas (2 metralhadoras). Armas conseguidas: A – 2 espingardas 20 e 2 rifles 44 (por compra); B – 4 espingardas 16, uma carabina de repetição e 2 revólveres (tomados ao inimigo); C – 2 espingardas 20 (tomadas do inimigo), um rifle 44 e um revólver 38 (por compra); CM – uma espingarda 20. Total: 16 armas. Apesar de termos perdido a oficina, mantemos uma oficina volante que vem consertando as armas avariadas.

i) Estragou-se o calçado e o vestuário. O pneu vem suprindo a falta de calçados. O problema do vestuário vem sendo enfrentado com dificuldade. O A comprou brim. O B conseguiu alguma roupa, tirando-a do grileiro.

j) Sobre o Serviço de Saúde, este vem funcionando normalmente. A morte de Juca foi para tal serviço um pesado golpe. Mas os bulas do D estão preenchendo a lacuna aberta. Não têm faltado remédios devido aos nossos depósitos. Também se adquiriu uma boa quantidade de medicamentos. Devido a isso, o estado de saúde dos combatentes é bom. A malária e a leishmaniose vêm sendo enfrentadas com êxito. E não são poucos os casos. Mas os depósitos estão sendo consumidos. O C perdeu muitos remédios e o B não tinha completado seus depósitos. É necessário comprar mais remédios.

k) Sobre o Desempenho das Mulheres. Foi realizada, neste sentido, boa experiência. Os companheiros muito ajudaram e não criaram dificuldades. Muitas têm se destacado. O exemplo do “pelotão feminino”. As mulheres contribuem bastante para desenvolver o trabalho de massas;

l) Sobre o Recrutamento para as FF GG. O DA fez um recrutamento e tem vários outros em vista. Há boas perspectivas. Deveremos crescer com elementos da população local;

m) Apesar de nossos êxitos tivemos perdas de combatentes: 12 mortos, 4 presos e 2 desertores (11 do DC, 5 do DB, 1 no DA e 1 na CM). Total: 18 baixas, número bastante elevado para o efetivo das FF GG. Entre as baixas estão combatentes que tinham bastante qualificação;

n) Causas das Baixas:
- não se tem em conta que a guerra é prolongada;
- desobediência às leis da guerrilha (não aplicação das normas de marcha, de
trabalho de massas, etc). Falta de vigilância;
- inexperiência militar;
- ilusões em relação às massas, vendo apenas seus lados positivos;
- deixar bate-paus e delatores livremente.

4. Como Atuaram as FF AA da Ditadura no Curso de Um Ano

a) o inimigo não atuou de maneira uniforme. Comportou-se de 3 formas: usando grandes efetivos em vastas campanhas militares; empregando pequenos efetivos em atividades permanentes; não desenvolvendo qualquer atividade, deixando a região abandonada;
b) emprego de patrulhas de diferentes efetivos (30, 15, 6 e até 4 homens);
c) marchas nas estradas e caminhos;
d) algumas incursões na mata;
e) emboscadas em pontos estratégicos ou em lugares onde tinham a informação sobre a passagem de guerrilheiros;
f) queima de barracas;
g) emprego de bate-paus como guias;
h) pouca tropa especializada. Soldados inexperientes e com moral baixo;
i) armamento bom. Todos os soldados com FAL. Alguns com metralhadoras. Bem equipados;
j) logística: alimentos enlatados, liofilizados e rancho transportado em burros ou helicópteros;
k) dificuldades de transporte e abastecimento para grandes efetivos;
l) função dos aviões e helicópteros: só deve ter sido úteis para o transporte;
m) construção de numerosas estradas. Nenhuma serventia na estação das águas;
n) sua política em relação à massa fracassou. Não conseguiu ganhar a simpatia da população local. De nada valeu a demagogia (ACISO). O Exército não amedrontou os camponeses;
o) propaganda dirigida aos guerrilheiros;
p) organização de Batalhões de Infantaria de Combate na Selva. Preparação de tropa especializada;
q) o inimigo terá que apelar para o emprego de grandes efetivos e será obrigado a penetrar na mata. Mas não alcançará grandes resultados.

5. O Papel das Cidades em Um Ano de Luta Guerrilheira

a) no aspecto político, foi de importância fundamental o papel das cidades para a guerrilha do Araguaia;
b) Ajuda Política. Propaganda no País e no Exterior. O P deu projeção nacional à resistência armada no Sul do Pará;
c) Ajuda material e Informação;
d) os ataques do inimigo contra o P nas cidades e seus reflexos no movimento guerrilheiro. Desafiamos a ditadura e ela se voltou desesperada e cheia de ódio contra o P e contra os revolucionários.

6) As Principais Conclusões de Um Ano de Luta Guerrilheira

a) no trabalho de massas. O povo da região está do nosso lado. Podemos ganha-lo para a luta ativa. Nossa influência tende a crescer e ultrapassar os limites da nossa região;
b) na atividade militar. Temos condições de resistir ao inimigo, infligir-lhe perdas, conseguir armas, aumentar nosso poderio. As FFFF da ditadura não podem derrotar uma força guerrilheira, mesmo pequena, que emprega com habilidade a tática da guerra de guerrilha;
c) organização das FF GG. Podemos constituir um contingente de vários DD, capaz de dominar o terreno, de viver normalmente na mata e que tenha elevada capacidade militar. Podemos nos armar com armas tomadas ao inimigo, compradas e por os fabricadas. As FF GG podem crescer à base do recrutamento entre a população local e, eventualmente, com pessoas vindas das cidades;
d) no abastecimento. Abastecer-se apoiado nas massas e na mata. Fazer depósitos de alimentos para serem consumidos em situação difícil;
e) na educação dos combatentes. Formar o combatente na luta, no trabalho árduo e no contato com os camponeses;
f) o P desempenha papel fundamental na atividade política da guerrilha;
g) no comando das FF GG. É necessário se prevenir sempre contra o formalismo e contra toda espécie de liberalismo. Ter o máximo de iniciativa e lutar sempre contra a rotina.

7) Nossas Perspectivas

a) desenvolver as FF GG, ampliar sua influência sobre o povo e aumentar sua área de ação (esta última num prazo mais longo). Recrutar novos combatentes. Crescimento da
ULDP;
b) enfrentar lutas mais duras e difíceis diante de novas campanhas do inimigo. Treinar e preparar melhor nossos combatentes. Conseguir mais armas;
c) apoiar-se nas próprias forças. Tudo fazer para se abastecer e crescer pelo trabalho em nossa região. A cidade deve ser cada vez mais considerada como acessório na luta armada;
d) preparar-se sempre mais para uma guerra prolongada. Preservar ao máximo
nossas forças. O ano de 1973, no entanto, pode nos trazer surpresas (a camarilha que se
encontra no poder se isola, se desgasta, e neste ano muda-se o ditador). Precisamos estar
preparados para intervir com mais peso nos acontecimentos.

8. Algumas Tarefas Práticas

a) estudar e assimilar as normas e regulamentos das FF GG. Procurar dominar as leis da guerrilha;
b) pesquisar e estabelecer os locais de fustigamento e emboscada (reafirmação de tarefa já dada);
c) criar novos depósitos de alimentos (reafirmação de tarefa já dada);
d) comprar e consertar armas e se apoderar do armamento de bate-paus e soldados;
e) intensificar o trabalho de massas. Cada D precisa atingir todos os moradores de sua área. Consolidar o trabalho entre os amigos firmes. Criar núcleos da ULDP;
f) intensificar a propagada revolucionária armada. Utilizar todos os documentos existentes e, em especial, o Romance da Libertação do Povo e o Manifesto do 1º Aniversário da Luta Guerrilheira;
g) ocupar uma pequena cidade, caso o inimigo não tenha chegado.