Revisão crítica da tese do "suicídio revolucionário"

REVISÃO CRÍTICA DA TESE DO "SUICÍDIO REVOLUCIONÁRIO"

Por Durbens Martins Nascimento

Introdução

Este artigo analisa o significado do diagnóstico produzido a partir de um grande esforço avaliativo, empreendido por intelectuais de diversas formações acadêmicas. Alguns, inclusive, protagonistas daqueles eventos, estabelecendo um diálogo com idéias e autores que estudaram e avaliaram a atuação e o perfil do movimento social contestatório, os quais insistiram como premissa básica na tese do "suicídio revolucionário" e na busca das "causas da derrota", do projeto revolucionário, a fim de atender as demandas políticas da conjuntura política dos anos 80.

Por "suicídio revolucionário", os principais autores que procuraram negar a experiência comunista, entenderam uma prática revolucionária que não tinha nenhuma chance em lograr êxito, haja vista terem mobilizado apenas uma parcela da classe média ou, ter iniciado a resistência armada numa conjuntura política nada favorável: refluxo das guerrilhas no continente com o fracasso do Che Guevara na Bolívia, em outubro de 1967, e o fortalecimento do regime com a ampliação de sua base de legitimação via"milagre econômico", e, finalmente, do aumento da repressão política que provocou o desmantelamento da maioria daquelas organizações e a morte de seus principais mentores, como Carlos Marighela (1969) e Carlos Lamarca /1971.

Procuramos, neste empreendimento teórico, argumentar a favor da tese de que essa autocrítica estava subordinada a uma nova plataforma político-estratégica da esquerda para a sociedade brasileira na década de 80, encabeçada pelo PT que aglutinara parte significativa da militância revolucionária ligada historicamente ao PCB e às organizações políticas clandestinas. Fato que levou a uma reflexão autocrítica fortemente influenciada pelos dilemas da consolidação da Transição Democrática. Nesta reflexão, produziu-se um diagnóstico sobre o fracasso da esquerda nas décadas de 60 e 70, atribuindo-lhe responsabilidade sobre o recrudescimento do regime militar, bem como caracterizou o ato da derrota como "suicídio revolucionário".

Na Transição para a esquerda, o objetivo era encontrar caminhos estratégicos a fim de responder aos desafios surgidos com o aparecimento de novos temas acrescentados à agenda política da esquerda. Nesse sentido, sugerimos, por fim, que a vinculação desses intelectuais com uma proposta supostamente alternativa de confrontação com Estado, nos marcos da institucionalidade liberal, de relacionamento com os novos movimentos sociais, em geral, e com o movimento operário reconstruído (o novo sindicalismo), no começo dos anos 80, em particular, deu origem a uma concepção da luta política norteada pela crítica a qualquer forma de práxis sustentada na guerra de guerrilhas. Essa perspectiva de análise vem recentemente ganhando destaque entre os estudiosos interessados no reexame da questão da atuação dos comunistas antes e depois do Golpe.
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Fuente: Revista de História Regional 9(1): 45-78, Verão 2004.