Forças Guerrilheiras do Araguaia: Balanço de 8 meses da luta guerrilheira no Araguaia

BALANÇO DE 8 MESES DA LUTA GUERRILHEIRA NO ARAGUAIA

1. Significado político da ação guerrilheira: o movimento guerrilheiro do Araguaia já existe há mais de 8 meses. Isto constitui uma vitória política e militar das forças populares. Este êxito deve ser altamente valorizado pela influência que exerce no curso dos acontecimentos políticos do país. As FF GG enfrentaram duas grandes ofensivas das FF AA da reação e a ação continuada do inimigo sem serem derrotadas. Seus êxitos políticos consistem: apesar da censura severa do governo, a guerrilha tornou-se conhecida em todo o Brasil e internacionalmente;

As FF GG conseguiram influir sobre a população de toda a região e da periferia, e despertam as massas para a luta. Cresce o número de amigos e simpatizantes da guerrilha, que ajudam os revolucionários armados das mais varias maneiras;

A ditadura, até agora, tem se mostrado impotente para esmagar a resistência armada surgida no Sul do Pará;

A existência da guerrilha estimula a ação das forças revolucionárias nos mais diferentes pontos do país. Facilita a ampliação da frente única e aguça as contradições sociais e políticas da sociedade brasileira (maior isolamento da ditadura, protesto da Igreja Católica, carta de Rui Mesquita sobre a censura à imprensa, lutas dos trabalhadores nas cidades e no campo, etc).

2. Os êxitos militares do movimento guerrilheiro. Esses êxitos consistem: a sobrevivência das FF GG como força militar organizada. A guerrilha enfrenta tropas muito superiores em número e em armamento, mas tem preservado suas principais forças;

As FF GG adquiriram maior experiência militar. Forja-se uma peça armada de novo tipo;

As FF GG adquiriram maior conhecimento do terreno e de vida na mata. Os co circulam com desenvoltura na selva e transformaram a floresta em seu lar;

As FF GG vão elaborando sua tática militar para cada circunstância e para o conjunto da atividade. Realizam uma justa coordenação entre o apoio na mata e o apoio nas massas. A selva tem sido o principal ponto de apoio dos guerrilheiros para se defender do inimigo. Sem as massas a guerrilha não poderia sobreviver;

As FF GG vão resolvendo seus problemas de abastecimento apoiadas nas massas e na mata;

As FF GG ocasionaram baixas ao inimigo;

Vão se forjando valorosos combatentes, firmes e audazes. Surgem verdadeiros revolucionários, de que é exemplo a co Fátima;

3. As perdas das FF GG. Apesar dos êxitos alcançados, a guerrilha teve pesadas baixas. As FF GG pagaram caro a sua sobrevivência e seu aprendizado. Suas baixas e perdas consistem:

Em combatentes (mortos, presos e desaparecidos): no DC 20 co (todo o seu efetivo); no DB 7 co; no DA 1 co; e na CM 1 co. Estas perdas tornam-se mais graves se tivermos em conta de que elas não podem ser preenchidas de imediato.

Em armas: no DC 4 fuzis, 3 rifles 44, 6 espingardas, 1 pistola colt 45, 16 revólveres 38, 2 armas curtas. No DB 2 rifles 44, uma espingarda 16, 4 espingardas 20, uma espingarda 36, 7 revólveres 38. No DA 1 espingarda 16 e 2 revólveres 38. Na CM 1 revólver calibre 38.

Ao todo as FF GG perderam 4 fuzis, 5 rifles 44, 10 espingardas 20, 2 espingardas 16, 1 espingarda 36, 1 pistola colt 45, 26 revólveres, num total de 49 armas. Existem também algumas armas avariadas. Somente o DA conseguiu, depois de iniciada a luta, 3 armas: 2 rifles 44 e 1 espingarda 20.

4. Situação dos Destacamentos

O DA obteve importantes êxitos. Permanece incólume. Seu poder de fogo melhorou um pouco. Se comando tem espírito de iniciativa e realizou bom trabalho de massas. Visitou mais de 100 famílias. Conseguiu muitos amigos e tem perspectivas de conquistar outros.

Vem resolvendo seus problemas de abastecimento apoiado nas massas. Movimenta-se bem na mata. Realiza uma justa coordenação entre o apoio na mata e o apoio na massa. Tem boas perspectivas de crescer apoiado nas massas.

O DB também teve êxitos, mas teve baixas relativamente grandes: 7 co (6 fora de sua área).

Levou a cabo razoável trabalho de massas. Visitou 40 famílias e conseguiu alguns amigos.

Tem-se apoiado pouco nas massas para se abastecer. É lento em sua movimentação. Tem tendência a permanecer na mata. Seu poder de fogo (que já era pequeno) foi bastante enfraquecido. Seu comando, embora capaz, revela acentuado espírito defensivo.

O DC dispersou-se. Muitos morreram, outros foram presos e o restante parece que se deslocou para outra região.

5. Por que existe uma situação tão diversa para cada D? As causas destas disparidades d situação são as seguintes: preparação militar desigual antes do desencadeamento da luta. No DC o treinamento militar foi pequeno e havia muita preocupação com a produção; má preparação das linhas interiores (através da mata) para a ligação inter-grupos e com a CM. O DC não preparou tais linhas; compreensão diversa da nossa linha militar, principalmente no papel que a selva deve desempenhar. O DC não compreendeu a função do D como unidade autônoma fundamental e atuou em grupos isolados e em áreas fixas. Não aplicou com acerto a tática de guerrillas (andou em estradas, piques, trilhas, etc). Não teve a necessária vigilância ao visitar as massas; compreensão diversa sobre o papel das massas. O DC revelou ilusões nos camponeses individualmente (basta ser elemento da massa para ser bom) e o DB revelou falta de confiança nas massas, preferindo ficar na mata a visitá-las para realizar propaganda revolucionária; concepção de que as FF GG são uma organização do P e não uma força militar organizada.

Nos DD tem sido difícil impor rigorosa disciplina militar; diversidade na qualidade dos comandos. Os comandos dos DD têm importância fundamental. Um bom ou mau comando tem ocasionado êxitos ou fracassos. Parece que no DC o comando revelou-se incapaz; falta de justa coordenação entre o apoio na mata e apoio nas massas. Tendência a ficar enfurnado na selva; falta de espírito de iniciativa e de luta contra a rotina; falta de experiência militar e fraco armamento.

6. Como age o inimigo. A Tática do inimigo tem consistido: o inimigo tem agido com pequenas forças e com grandes efetivos alternadamente; o essencial da tática do Exército reside na concentração de soldados em cidades, corrutelas e bases (nas fazendas e em barracões) de onde saem as patrulhas que percorrem estradas, caminhos, piques e, eventualmente, penetram nas selvas; o Exército tem dado tem dado grande atenção à abertura de estradas na região. Melhorou a estrada de que vai de Vanderlândia (na Belém-Brasília) até Xambioá. Construiu a estrada Araguaina-Araguanã, a rodovia S. Geraldo-Marabá, a estrada de rodagem Brejo Grande-Santa Cruz, e melhorou a estrada que sai de Marabá e leva até Oito Barrancas. O inimigo pretende com isso se locomover mais fácil e rapidamente e realizar o cerco estratégico das FF GG; as FF AA da ditadura realizaram duas grandes campanhas contra as FF GG. Uma em abril e outra em setembro-outubro. Ambas fracassaram porque seus planos foram elaborados sobre os mapas, fora da realidade da selva. Grandes massas de soldados não podem penetrar nas selvas por diversas razões. Elas acabam se concentrando na Transamazônica, nas cidades e vilarejos da periferia. O excesso de homens traz em si, ao inimigo, enormes dificuldades, como falta de transporte, precária logística e emprego de tropas sem experiência de luta antiguerrilha. Além do mais, os guerrilheiros só aparecem quando querem e julgam conveniente. O Exército combate a um inimigo invisível; as FF AA do governo revelam pouca eficiência militar. Seus êxitos são frutos de nossos erros e não da sua capacidade militar; por mais que o inimigo se empenhe em procurar novas formas para combater as FF GG, não tem outra alternativa senão insistir no trabalho de patrulha e nação da polícia entre as massas com o objetivo de localizar os guerrilheiros. Essa atividade é lenta e pouco produtiva. Procurar guerrilheiros na selva é o mesmo que procurar uma agulha num palheiro. E se a massa é amiga dos revolucionários armados, o inimigo estará sempre desinformado e não localizará as unidades guerrilheiras; o inimigo realizará outras campanhas aparatosas, mobilizando milhares de soldados, mas não conseguirá grandes coisas e dessa forma não derrotará as FF GG; as FF GG não devem subestimar o inimigo, mas não temer suas arremetidas. O justo emprego da tática de guerrilhas anulará tais arremetidas.

7. Como devemos atuar

O sentido fundamental de nossa atuação é o de preservar nossas forças. Não subestimar o adversário, lutando num terreno e em condições que lhes sejam favoráveis. A tática de guerrilhas por nós aprendida na prática deve ser rigorosamente obedecida. Precisamos valorizar, com o apoio da nossa experiência militar de 8 meses, que nos custou sangue, sacrifícios e trabalho árduo. Cumprir as normas elaboradas à base dessa experiência. Nas condições atuais, qualquer descuido pode nos ser fatal; devemos nos consolidar e crescer, partindo das forças que compõem os DD A e B. A experiência do DA, por seu aspecto altamente positivo, deve ser generalizada. É de vital importância para as FF GG o seu crescimento. Esse crescimento pode se dar em duas direções: com elementos da região e com pessoas vindas das cidades. Esta última direção é a mais difícil: dificuldades criadas pelo inimigo à vinda de novos co; talvez não haja ainda gente suficientemente preparada para esta tarefa, etc. A experiência do DA mostra que as FF GG podem crescer com elementos locais; devemos aumentar nosso armamento, conseguindo armas com a massa, a exemplo do DA, e arrebatando-as ao inimigo. No momento, concentrar no trabalho de reparação do armamento avariado; devemos, em nossa atividade, concentrar na propaganda revolucionária e desenvolver o trabalho de massa. Organizar os melhores elementos do povo, obedecendo sempre às normas conspirativas; realizar, quando houver condições, emboscadas. Realizar permanentemente fustigamentos.

Atuar em diferentes áreas para desnortear e surpreender o inimigo. Se o inimigo ataca com grandes efetivos, diminuímos nossa atividade entre as massas e procuraremos golpeá-lo nas ocasiões oportunas. Se o inimigo nos dá folga, devemos desenvolver o trabalho de massas e nos consolidar; tomar medidas para organizar as reservas de alimentação e equipamento; organizar a entrada de gente e material; simplificar a CM. Mandar, temporariamente, um membro da CM para o DB. Enviar para esse D 2 co; continuar nas tentativas de se informar sobre o que aconteceu no DC e com o Ju e seu grupo; até meados do ano recrutar 20 novos co, sendo 10 na região e 10 nas cidades.